quinta-feira, 24 de março de 2011

Depoimentos Carnaval: Helena

Queridos...
O caminho para nós mesmos nem sempre é muito simples... às vezes eu não entendo muito os sinais e fico meio confusa com o vivido/sentido.
Sou uma pessoa de muitos pensares. Talvez porque a palavra faça parte da minha vida de forma bastante intensa. Desde criança gostava de ler e de pensar o lido. Eu e meus irmãos gostávamos de analisar livros e letras de músicas... e de ficar viajando em papos-cabeça. Trabalho com a palavra... tanto no teatro quanto na propaganda.

Às vezes percebo que o muito pensar atrapalha. Racionalizo demais... e o sentir se perde...

Mas, por enquanto, ainda preciso delas (das palavras) pra ver se eu consigo me apropriar do vivido. E, talvez, principalmente, pra eu tentar me entender. Por isso resolvi escrever pra vocês... talvez pareça meio confuso, porque ainda não está claro pra mim, mas lá vai, assim mesmo.

Sou uma pessoa de muitos pensares, mas também sou uma pessoa muito corporal. Intensamente corporal. O meu corpo pede movimento, pede presença, pede som, pede calor, pede contato, pede olhar, pede cheiros, pede gostos. E nosso encontro teve muito disso.

Nosso encontro foi mais um momento especial nesta busca de me encontrar. De entrar em contato com meus medos, de me desestabilizar, de viver o novo e de criar novas formas de estar no mundo, mas mais feliz, mais inteira, mais eu.

No encerramento dos trabalhos, estava preenchida de amor e gratidão. Mas na quarta, por acontecimentos alheios ao nosso carnaval, me senti carente. Surgiu um vazio aqui dentro. Um vazio que já conheço.

Ganhei um texto há muito tempo... e só há poucos anos compreendi na pele e na alma seu verdadeiro significado. Acho ele demais! É um trecho do livro Sidarta, em que Hermann Hesse coloca a relação do protagonista com Kamala.


“A Sidarta, que em matéria de amor era ainda um menino e tendia a lançar-se cegamente, com apetite insaciável, no gozo como que num abismo, ensinava ela, desde o princípio, o fato de que não se pode receber prazer sem dar prazer; que cada gesto, cada carícia, cada aspecto, cada parte do corpo esconde em si um segredo, cuja descoberta causará delícia a quem a fizer. Dela aprendia Sidarta que os amantes não devem separar-se após a festa do amor sem que um parceiro sinta admiração pelo outro, sem que ambos sejam vencedores tanto como vencidos, de maneira que em nenhum dos dois possa surgir a sensação de enfado ou de vazio e ainda menos a impressão desagradável de se terem maltratado mutuamente... Exercitava-se no culto das delícias, no qual, mais do que em nenhum outro, os atos de dar e de tomar fundem-se num só.”

Acredito nisso. Muito! E penso em nós...

A relação de nosso grupo foi de muito respeito, de cuidado com o outro, de doação, de admiração. Por que, então, estou de novo com sensação de vazio? Não vazio como não existência, mas como falta. O que acontece?

E me vem que talvez precise criar um espaço aqui dentro mais forte, com membranas firmes, mas maleáveis, que sustentem o que eu receber. Talvez seja isso... talvez...

É... o caminho para nós mesmos nem sempre é muito simples...

SINTO SAUDADES DE VOCÊS! Foi rápido, mas intenso. De muita cumplicidade. Tomara que a gente se encontre logo.

Bjs Helena (participante do Carnaval Tântrico 2011, da Companhia do Ser, um doce de tão carinhosa)

Nenhum comentário: