terça-feira, 25 de março de 2008

Das entranhas

"Esse turbilhão me atiça a vontade de falar através das minhas entranhas. É a primeira vez que faço isso de forma consciente, assistindo a mim mesma nesta cena. Este é um local do meu corpo que só acesso quando tenho uma grande dor de barriga, quando tenho cólicas ou quando estou colerizada. Surge uma sensação de sarcamos, de ironia, de desdém ao falar disso, talvez esses sentimentos venham desse local...

A maratona do final de semana me despertou isso. Espremi meus órgãos, meu fígado, expeli o fel, a bilis, os sucos gástricos. Também estou meio rouca como muitos descreveram, mas sinto poder, presença, grandiosidade, plenitude, auto-suficiencia. Vou provando e comprovando as sensações de um novo corpo.

Não preciso inchar meu peito para formar um escudo, posso sentir as pessoas!
Não preciso afundar minha cabeça como uma tartaruga que se esconde em si mesma, já posso vislumbrar o horizonte!
Minhas pernas me aguentam, quanta confiança conquistada! Já posso ir e vir, esse é o meu direito!

Sinto a presença da minha barriga, não uma barriga flácida, com os pneuzinhos, mas a minha barriga viva, pulsante, vibrante. Minha barriga tem vontade, humor, e quer falar. Minha barriga vai revelando suas funções, vejo minha barriga como um ventre, um lugar de abrigo, um lugar de geração, de força, de tranquilidade, de transformações profundas.

Sinto-me mais Mada do que nunca, acho que sempre fui, a diferença é que agora o fruto está amadurecendo. Seguindo seu ciclo antes parado pelo congelamento.
Me inspiro no sonho da Paula, quero parir um filho, ou melhor uma filha. Sinto que estou grávida de mim mesma. Vou parir aquela que ficou lá dentro, escondida, guardada, protegida, em maturação e quase morreu congelada num primeiro momento e depois, por asfixia. Salva no último instante! Ufa!!

Sinto que as entranhas são um lugar de poder, lugar para se ver e fazer e falar de coisas sujas e sublimes sem distinção, entrar e sair sem pedir licença, extravasar o tesão com sustentação, e tantas outras coisas que me soam como primitivas, mas fundamentais e vitais. Conquistar os espaços novos, dar espaço para as cóleras da vida sem se perder nelas. Cuidar do espaço conquistado com tanto suor!

As entranhas são vitais nas minhas decisões e no tamanho do mundo que conquistei!!

Nossa!! até eu me assustei agora!

Minha profunda gratidão por ouvirem os primeiros sons de minhas entranhas!!

beijos digestivos a cada um,

Mada"


Texto escrito por Dhyan Mada (freqüenta o curso avançado do Laboratório de Formatividade Tântrica da Companhia do Ser , e é uma mulher linda, sábia e dedicada).

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