terça-feira, 25 de março de 2008

Um quebra-cabeça, uma mensagem, uma música, uma declaração de amor...

"Cheguei num ponto do meu caminho em que sinto como se estivesse montando um quebra-cabeça de 5.000 peças.

Não sei se alguém já fez isso. Quem já fez vai saber do que estou falando. Você monta primeiro a moldura, depois de ter passado um tempão só pra achar as peças que tem um lado reto no meio de 5.000. Só pra montar a moldura vc demoooora, e vai aos pouquinhos. Pronto. Moldura terminada. E agora? Um bolo indiscriminado de peças, e você primeiro separa, por tonalidades de cores...

Por motivos, estampas,... é galho, é telhado ou é céu?
Ai meu deus, qantas peças azul-céu, IDÊNTICAS, CARALHO, eu nunca vou conseguir montar isso!

E aos pouquinhos, vc vai fazendo, separando, pára pra tomar um suco, vai trabalhar, volta do trabalho e continua montando...

(e estoy ouvindo
"Siempre me Quedará" sem parar, que perfeição essa letra, neste momento!)

“Cómo decir que me parte en mil
las esquinitas de mis huesos,”

Hoje comecei a ler as mensagens do grupo em atraso (não abro o email desde o encontro do avançado).

Quanta coisa, quanta coisa linda, me perco em tanto conteúdo... Me vejo me separando, não fazendo parte (depois explico mais isso). Depois de tantos e tantos grupos, percebo um novo desdobramento do meu processo, ou uma nova dobra surgindo?, formativamente falando.

Uma coisa espantosa está acontecendo.
Todos os meus mecanismos estão DISPARADOS. Todas as luzes de alerta piscando, os alarmes soando... É como se um cenário gigantesco já tivesse desmoronado, e sobrou um velhinho frágil e patético, que estava por trás de tudo isso, tentando apagar os incêndios... “Nãããão, meu reinoooo!!!” Um magico de Oz senil e patético.

“que han caído los esquemas de mi vida
ahora que todo era perfecto.”

Meus mecanismos, ah... Me vejo repetindo quase à perfeição os esquemas que montei pra sobreviver em minha família, com o grupo!
Nenhuma história de horror. Apenas uma história de omissões, e de não-fazeres.

Uma história de como sempre fui amada e incompreendida ao mesmo tempo, a caçula engraçadinha que divertia a todos os 6 irmãos bem mais velhos, pai e mãe, com sua inteligência e graciosidade... “Como criar essa criatura? Será que tem que por numa escola diferente? Que que a gente faz?” E foi do jeito que deu, nas coxas – sim, o melhor que puderam dar de si.

Até eu crescer. Não, minha puberdade não foi aceita. De repente, todo mundo sumiu! Todos os meus “cuidadores” (irmãos) caíram fora de minha criação (ocupados demais virando adultos), meu pai teve que se mudar pra Curitiba e não testemunhou meus 10 aos 15 anos. Minha mãe, presente em corpo, e completamente ausente...! Perdida em suas depressões e seus próprios fantasmas. “Não consigo discutir com a Carla, ela sempre me dobra com argumentos!” Ela desistiu, e me deixou estar. Let it be.

Mas, ah, como eu era amada! O Amor, uma entidade intocável, sempre presente. “No creo em brujas, pero que las hay, las hay.”, algo assim. Meu irmão que mais me maltratava fazia isso porque ele me amava mais que tudo na vida! Nunca faltou carinho! Não tem do que reclamar, então, certo? Toca a tua vida sozinha, com essa idéia de amor esquizofrênico que ama e pronto. E cada um por si.

E como isso tudo se junta ao nosso grupo, na nossa família?
Eu nunca falei pra minha família que precisava deles. Não pude precisar. Cresci, realmente achando que me tornei forte e indepentente (leia-se: “que não sente dor nem porra nenhuma” e “não precisa de vocês mesmo, seus omissos de merda!”)

Me vejo, agora, com tudo disparado, observando o velhinho tentando recriar o circo, reerguendo estruturas que não páram mais em pé. O “mulherão” controlador virou um velhinho de 1,56m, um controlador patético.
Me vejo, no momento em que mais preciso de vocês, à beira de gritar “vão à merda seus idiotas! Eu não preciso de vocês!”

Quero dar as costas por achar que vou ser ignorada, rejeitada e não-reconhecida, como minha família fez comigo. Quero foder antes que eu me foda.

Me observo sentindo tudo isso...
... separando, cor por cor, árvore com árvore, céu com céu. Triste, frágil e incomodada com tantos alarmes soando, mas SERENA como NUNCA.

“El tiempo todo calma, la tempestad y la calma, el tiempo todo calma, la tempestad y la calma.”

E uma chuva deliciosa lava a minha alma. Me sinto desmanchando, derretendo, dissolvendo. Sinto frio, mas me sinto mais abençoada que nunca. Vejo um córregozinho se formando, que logo vai criar volume e gerar uma correnteza que vai levar algumas coisas embora, e fecundar outras. É a energia do grupo! Essa membrana que nos une! É o cuidado do Parmesh e a energia sempre presente do Saananda. Um oceano de energias curadoras que já nos envolve, e pra onde que que meu rio corra.

“de este cuerpecito mío que se ha convertío en río. de este cuerpecito mío que se ha convertío en río.”

Percebo agora como precisei de minha família. Meus irmãos, meus pais. Nunca tinha conseguido perceber que tudo o que eu queria era ter sido amada, acompanhada, compreendida, aceita. Só agora!

O meu impulso de me separar, minha sensação de que eu não serei aceita, de que não estou agradando, de não querer dar trabalho, meu medo de ser excluída por não ser compreendida... São todas formas de ser amada que eu aprendi! (e seus derivados!) Fico tentando encaixar o grupo, essa família, na forma de amar e ser amada que aprendi com minha família!

Então, não. Vou fazer diferente.

Preciso SIM de vocês. Preciso do amor de vocês. Quando digo “o grupo”, ou “vocês”, quero dizer, exatamente: cada um de vocês com cada umas de suas caracetrísticas. Não é o grupo como uma instituição, mas como várias pessoas, juntas.

É com vocês que quero crescer, experimentar, aprender e ensinar.
Ainda estou aprendendo como amar e ser amada desde um outro lugar, diferente da incompreensão e do distanciamento. Não sei ainda como é. Só sei que é um lugar bem mais feminino, molinho e molhado, hehehe...

Junto com esses mecanismos disparados vêm muitos sentimentos. Me vem tristeza, raiva, doçura, saco-cheio, cansaço, calor, tesão, preguiça. Mergulho nelas e fico presente nelas, aí elas passam, e eu fico. Estou aqui. Quero aprender a ser aceita assim. Dos outros jeitos eu já sei. Sei que estou meio feia, meio sem brilho no olho. Meio purulenta, meio séria. Tô bem estranha. Mas estou aqui, e sei que serei muito mais, muito em breve.

É um momento muito AQUI, COMIGO. Quero dizer egoísta, mas essa palavra tem várias interpretações.
É AQUI, COMIGO. Essa Veet Prem, um EU que me observa, me dando a mão SEM LARGAR. O Parmesh, me dando a mão SEM LARGAR (obrigada, meu lindo).

Como se meu corpo fosse o de um bebezinho que colocassem na água corrente de um riacho, segurando pelos bracinhos, ele fecha os olhinhos, e tampa a boca meio desajeitado e totalmente presente, sente a água, é forte, é frio, brrr!!!, parece que vai se perder, vou me perder, AI, VOU ME PERDER.....!!! ...
... E de repente os pais puxam os bracinhos e tiram da água. “Ta tudo bem, querida, estamos aqui.”

É assim que estou comigo.

“Siempre me quedará
la voz suave del mar,
volver a respirar la lluvia que caerá
sobre este cuerpo y mojará
la flor que crece en mi......y volver a reír”
...

Que relatos lindos, Libania, Mada, Cintia, Alex, Lily, Ana Helena, Dinmani, Paula-repolho, Rajiva, e outros tantos... Saudades Glaucia, bom que já vou te ver! Quero comentar, e contribuir, mas não vem nada. Estou AQUI COMIGO, leio vocês e vejo vocês e SORVO vocês (como uma ostra com limão!), e sorrio um sorriso muito grande lá dentro, mas não consigo sair, ir pra fora. Ou melhor, não QUERO sair dessa minha placenta. Essa gestação de que falei no avançado, parece que absorve todos os meus nutrientes e energias, eu como muito e não engordo, todos falam que eu emagreci!

Sei que é muita metáfora, queria me fazer entender com elaborações mais “corticais”... mas estou nesse lugar agora. É assim, e tento passar um pouco pra vocês. Desculpem o texto tão longo e obrigada aos que sobreviveram até o final! :o)

Ana Helena, querida, você é MUITO bem vinda. Lembra que eu te falei que é um tempo lento, um processo biológico...? por enquanto você é ostra, tudo bem.

Um grande abraço a todos vocês, inclusive os que não aparecem faz tempo.
Veet Prem – (e a Carla acena e manda lembranças a todos)"


Esta declaração de amor foi enviada por Veet Prem (da equipe avançada de Tantra e da equipe de terapeutas da Companhia do Ser , dotada de um dom excepcional de emocionar a gente).

Música: Siempre me Quedará - Bebe

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