quinta-feira, 27 de março de 2008

RE: Deixar...

“Carlinha

Tenho me segurando para ficar quietinho. Falar ou escrever é parte importante de uma identidade que sempre me foi pesada. É peso demais para alçar vôos rumo ao desconhecido. Mas … estou nesse grupo me apropriando de novas formas de me expressar.

O que tem acontecido em mim vem aos borbotões. Não estou assustado, não estou com medo, não estou ansioso, não estou … nada. Estou vazio de novo, mas agora aflora uma nova consciência, de que este vazio tem uma qualidade. E é fácil para mim perceber o motivo.

Quando cheguei assim tão perto dos corações desta comunidade tântrica eu já havia desisitido. Sou um suicida. Ahhhhhhhh … “eu” quero morrer. Aquela identidade pesada, doída, desistiu de viver. Já havia desistido faz muito tempo (quem aqui conhece o zoloft, o meu amigo antidepressivo?). Agora finalmente estou morrendo.

Muita calma nessa hora, pois quem não tem olhos para ouvir, nem ouvidos para ver, vai interpretar de forma errada. A morte está se fazendo cada dia mais presente. E eu a aceito. Não tenho medo. Não estou resignado. Não estou ansioso. Deixo que ela venha, deixo que ela me torne mais e mais vazio.

Não importa quanto tempo demore: sem ansiedade. Não tenho apego pelo que já está perdido de uma forma ou de outra: sem medo. A consciência afasta a dúvida. É preciso morrer para que a vida resurja. A vida renasce na morte. O que “foi” se torna fertilizante do que “é”, e assim o ciclo se completa.

A doce Veet me jogou fundo no fundo do fundo no último encontro quando do coração dela brotou uma nova verdade: a da “saudade negativa”. Não “saudade como algo negativo, ruim ou mau”, mas sim a “saudade elevada à potência menos um”, ou seja, saudades do que está por vir.

UAU!!! Tem que ser saudade, porque não há nada de novo para vir. Tudo já está aqui. Meu coração já está aqui. Ao mesmo tempo esta saudade se projeta para frente, porque se refere a algo que está por vir. A saudade do que está por vir. Nada virá de novo, mas tudo será renovado. Nada virá de desconhecido, mas tudo será reconhecido.

Eu ouvi isso como nunca antes consegui ouvir nada ou ninguém (tudo vem aos borbotões, tudo tem sido assim nesta convivência tântrica). Me apropriei dessa verdade, e uma nova consciência cresce com ela. Se eu estiver com medo, nada virá. Se eu estiver ansioso, nada acontecerá. Basta relaxar e aceitar essa “saudade negativa”, essa expectativa-certeza de que o que tiver que vir, virá. A morte abre espaço para a vida. O que “foi” nutre o que “é”.

Veet, essa “saudade negativa” foi plantada pelo seu coração em meu coração, e muito bem plantada. Agora ela cresce, vigorosa. Namastê. Namastê.

Compartilho isso em cima da sua mensagem, Carlinha, porque senti em você algo muito próximo a isso. Muito próximo mesmo. Posso sentir fundo as suas palavras, que é a linguagem da sua consciência, do seu coração. Posso dizer que também me sinto um nadinha de nada, e aceito isso; que também não me reconheço, e aceito isso; estou renascendo de mim mesmo, e aceito isso; que as ondas das praias de Santos cavam sob meus pés, me levando mais e mais fundo na areia, e eu aceito isso.

Carlinha, o caminho é de cada um, e não posso trilhá-lo com ninguém. Nem você. Nem ninguém. Mas poder sentir do seu coração a mesma experiência permite ao meu coração enraizar mais fundo a consciência de que esse é “o caminho”.
Eu precisava compartilhar com você, Carlinha. E com você, Veet. E com todos esses corações tântricos que tanto me doam amor nessa comunidade, nesse grupo. O que me é dado, não é meu, é de todos vocês.

E especialmente para você, Carlinha, se esta mensagem te der algo para transcender a angústia, o medo e a insegurança … só estou retornando o que recebi.

Namastê.”

Luiz Jardineiro ( faz parte do grupo que se encontra mensalmente no Laboratório de Formatividade Tântrica da Companhia do Ser ).

Namastê, Luiz!

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