sexta-feira, 24 de julho de 2009

Das surras aos abraços

Os próximos posts são emails de uma seqüência de trocas de histórias, dores e marcas. As trocas se transformaram em acolhimento, cuidado e amor...

Difícil é não se tocar por tanto carinho expressado nestes textos, trocados no Yahoo Groups, por pessoas que participam do Laboratório de Formatividade Tântrica . O primeiro deles foi escrito pelo Marcio.

"Meus pais nunca trocaram afeto na frente de seus 5 filhos. Quando beijávamos papai, era um tipo de beijo burocrático, praticamente sem contato. Troca afetiva era alguma coisa muito desconhecida em nosso dia-a-dia. Não era incomum que apanhássemos de cinta, até ficarmos com o corpo inteiro marcado por vergões. E não podíamos chorar, sob pena de apanharmos mais. A dor moral era ainda maior do que a dor física.

A vida toda eu vivi às voltas com a necessidade de me sentir querido, de me sentir amado. E nunca soube receber bem manifestações de afeto, que sempre soaram como falsas. Fui aprendendo a rejeitar,

para não ter que experimentar a rejeição. Também sempre lidei supermal com a autoridade. Me trazia de volta aquela experiência com meu pai, onde tudo que eu fazia parecia errado. Tive que me apoiar nos meus dons artísticos para conquistar algum carinho e atenção dele, um artista múltiplo, que viveu frustrado como um médico no interior. Passei a acreditar que as pessoas valiam pelos seus dons artísticos ou por sua competência. Sempre fui primeiro aluno da classe, aquele que também tocava instrumentos musicais, ganhava concursos de redação, de desenho. Se eu não estivesse em um lugar de evidência, eu me sentia profundamente desconfortável. Era como se eu não fosse querido no silêncio, na quietude. Eu tinha que ser sempre simpático. A convivência social ia se transformando um peso, para eu sustentar uma imagem, que na maioria das vezes não era genuína, espontânea, autêntica. Hoje eu me sinto mais livre, mais à vontade. E tenho descoberto a força dessa afetividade reprimida. Tenho apreciado cada vez mais sair do meu mundo autista e estar com pessoas, desenvolver relações menos racionais e mais afetivas. O nosso grupo tem sido muito bom nesse sentido. Estou me nutrindo dessa coisa maravilhosa que é o afeto. É muito bom eu não ter mais que me ser especial. Dá uma liberdade, uma leveza. Eu não preciso mais ser centro das atenções.

E nem ser reconhecido pela minha arte. Agradeço a todos por essa extraordinária experiência. Agradeço ao Saananda, pela oportunidade de trabalhar essa minha questão com a autoridade. Quando penso em

reagir à nossa relação tão pouco afetiva, escolho olhar pra isso como uma grande oportunidade de treinamento, para que eu esteja com o outro com cada vez mais liberdade.

Beijo a todos. Obrigado pela oportunidade de me expor sem medo."

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